domingo, 17 de julho de 2011

Acusar é fácil

Opinião formada pelo Delegado de Polícia no Paraná Rogério Antonio

Esta semana a americana Casey Anthony foi absolvida (nos EUA) por unanimidade dos jurados da acusação de haver matado sua filha.O país praticamente entrou em comoção, "todo mundo" achava que ela deveria ter sido condenada a morte (pesquisas que variaram entre 69% e 82% indicaram nesse sentido).

O motivo da absolvição foi que havia uma dúvida "razoável" acerca da autoria do delito, isto é, o nosso velho conhecido e "pouco praticado" princípio da presunção de inocência, exumado pela Lei 12.403/2011, mas infelizmente ainda não totalmente "reanimado".

Casos como o de Casey e tantos outros ocorridos aqui no Brasil, mostram que as precipitações verborrágicas das autoridades que detém o poder da investigação, não fazem bem a ninguém. Quando se mexe com a honra, vida e liberdade das pessoas, é indispensável em primeiro lugar a impessoalidade do investigador, digo impessoalidade porque a "parcialidade" está ínsita em cada espírito (imparcialidade não existe) portanto a impessoalidade (inteligente e consciente) ajuda a arrefecer esse desequilíbrio que não poucas vezes, extrapola os princípios constitucionais e invade o chamado "inferno totalitário" como diz André Petry, aí está tudo praticamente perdido (para ambas as partes).

O profissional jamais deve se render aos holofotes e se quedar em declarações bombásticas, das quais pode se arrepender mais tarde e o pior, causar estragos irreversíveis a famílias inteiras, exemplo de casos assim não faltam, pessoas que são acusadas, algumas presas e depois são absolvidas ou nem sequer formalmente acusadas.

Nessa "briga" de egos e interesses, a imprensa faz "seu papel" tentando tirar a todo custo uma declaração diferenciada, a qual dentro de determinado contexto, potencializa aspectos do objeto em foco, a esse propósito, o decano do jornalismo brasileiro Alberto Dines, disse que "a sociedade que aceita qualquer jornalismo não merece jornalismo melhor".

O jornalista Roberto Cabrini sempre praticou o "jornalismo investigativo" sentenciando em várias de suas reportagens a condenação da conduta, honra e comportamento de pessoas. Muitas dessas "sentenças" jamais foram confirmadas, isso porém como se sabe, não merece o destaque da acusação, é sempre lançada em um box secundário no meio do caderno.

Em 2008 Cabrini foi preso em São Paulo por Policiais Civis do 100º Distrito Policial, acusado de portar papelotes de cocaína em seu carro. Na época Cabrini foi escrachado e teve sua reputação "arranhada", agora vem a Corregedoria Geral da Polícia Civil e diz que o flagrante de Cabrini pode ter sido "forjado", ou seja, ele não seria culpado mas vítima de uma armação.

Em uma entrevista "exclusiva" Roberto Cabrini, além de se defender (o relatório da Corregedoria é inconclusivo e nada ainda está finalizado) e mostrando um preconceito imperdoável para quem sempre defendeu a liberdade e a legalidade, diz que "é obrigado a admitir que assim como tem uma banda podre, a polícia também tem profissionais honestos, isentos e altamente profissionais", isto é, ele achava que todos os policiais eram desonestos, não isentos e não profissionais .

A responsabilidade e a cautela em uma acusação já era preocupação no tempo de Quintiliano ( Professor romano 35 d.C.- 95 d.C.) que numa feliz figura de linguagem sentenciou: "É muito mais fácil acusar que defender, como é mais fácil causar um ferimento que curá-lo" .

Fonte: Parana Online

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