quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Interrogatórios e as falsas confissões

Desde 1992, o Innocence Project, uma organização filantrópica legal, usou evidências de DNA para livrar 271 pessoas de acusações criminosas equivocadas – muitas destas ficaram dezenas de anos encarceradas. Mas um mistério emergiu nos registros criminais. 

Apesar de serem inocentes, cerca de um quarto dessas pessoas declararam-se culpadas das acusações.
Parece difícil acreditar que qualquer um em sã consciência admitiria a culpa de algo que não fez. Mas vários pesquisadores descobriram ser surpreendentemente fácil fazer com que as pessoas confessem a autoria de contravenções inventadas. 
Entende-se que estas confissões acontecem em laboratórios, e não em salas de interrogatório. Então, os custos podem não parecer tão altos para o confessor. 
Por outro lado, as pressões que podem existir numa delegacia são muito maiores do que aquelas de um laboratório. A conclusão é que parece ser fácil extrair uma confissão falsa de alguém – da qual será difícil se livrar depois.
Eu tenho que confessar
Um dos estudos mais recentes sobre o assunto, publicado na revista Law and Human Behavior por Saul Kassin e Jennifer Perillo, do John Jay College of Criminal Justice, em Nova York, usou um grupo de 71 estudantes universitários, aos quais foi dito que participariam de um teste que mediria seu tempo de reação. 

Aos participantes, pediu-se que apertassem as teclas de um teclado que fossem anunciadas em voz alta. Os voluntários foram informados que a tecla ALT estava com defeito, e, caso fosse apertada, o computador desligaria subitamente e os dados do experimento seriam perdidos. O condutor do experimento assistia ao processo sentado numa mesa.

Na verdade, o computador foi programado para desligar, independente de qualquer coisa, cerca de um minuto após o início do teste. Quando isso acontecia, o condutor do experimento perguntava a cada participante se havia apertado a tecla ilícita, fingia estar aborrecido ao “descobrir” que os dados haviam sido perdidos, e requeria que o participante assinasse uma confissão. 
Somente uma pessoa tinha de fato apertado a tecla ALT por engano, mas um quarto dos participantes inocentes ficavam tão chocados com a acusação que confessavam ter feito algo que não fizeram.
Robert Horseleberg e seus colegas da universidade de Maastricht, na Holanda, chegaram a resultados semelhantes. Num estudo ainda não publicado, membros do grupo do Dr. Horselenberg disseram a 58 pessoas que elas estavam fazendo parte de uma prova para uma cadeia de supermercados. 
O vencedor ganharia um prêmio, como um iPad ou uma coleção de DVDs. Aos voluntários era pedido que provassem dez latas de refrigerantes e os identificassem. Os rótulos eram ocultos por meias cobertas até o aro superior de cada lata, de modo que, para trapacear, o voluntário teria apenas que abaixar a meia.
Durante o teste, que era filmado por uma câmera escondida, dez participantes trapacearam. Impressionantemente, oito confessaram ter trapaceado (quando na realidade não haviam trapaceado) ao serem acusados pelo condutor, apesar de terem sido avisados que trapaças custariam uma multa de US$ 72.
O número de confessores inocentes aumenta quando técnicas de interrogação variadas são adicionadas à mistura. Vários experimentos, por exemplo, focaram no uso de evidências falsas, como quando a polícia finge ter a prova da culpa de um acusado para encorajá-lo a confessar. Isso costuma ser permitido nos Estados Unidos, apesar de ser proibido na Inglaterra.
Apesar de muitas jurisdições requererem evidências que corroborem da acusação, na prática a autocondenação é bastante incriminadora – e, tudo indica, surpreendentemente fácil de ser induzida.
Fonte: Opinião e Notícia

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