quarta-feira, 4 de junho de 2014

Alagoinha do Piauí amarga o título de cidade mais analfabeta do país

Alagoinha do Piauí tem 7.341 habitantes e concentra o maior número de analfabetos do país: 44% dos jovens maiores de 15 anos (idade adequada para a conclusão do ensino fundamental) não sabem ler nem escrever. A taxa supera a nacional, de 8,7%, e a de nações pobres como Madagascar (36%), Ruanda (29%) e Camboja (26%).


A região no sudeste piauiense convive com anos de descaso e abandono total das estruturas educacionais: escolas sem instalações adequadas, salas de aula insuficientes, escassez de transporte escolar e, sobretudo, fraudes em projetos que pretendiam minar o analfabetismo na localidade.

Uma dessas iniciativas se refere ao programa Brasil Alfabetizado, criado em 2003 pelo então presidente Lula. O objetivo do projeto é acelerar a alfabetização de jovens e adultos oferecendo cursos livres, ministrados por leigos com o ensino médio completo. Cada professor recebe uma bolsa de R$ 400 e deve formar uma turma com 14 alunos em áreas urbanas e sete em zonas rurais. Por falta de fiscalização e fraudes reconhecidas pelo próprio prefeito da cidade, Pedro Otacílio (PSB), e pelo secretário municipal de Educação, Marcio Ribeiro, a iniciativa não teve o retorno esperado e manteve Alagoinha do Piauí nos porões da educação no Brasil.

De acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil de 2013, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), dentre os alunos de seis a 14 anos que frequentam o ensino médio na região, 33% estão até dois anos atrasados; apenas 21% dos jovens entre 18 e 20 anos concluíram o ensino médio; e só 6% dos jovens de 18 a 24 anos fazem faculdade. O mesmo documento mostra que o tempo médio de vida escolar das crianças da região é de sete anos.

Apesar dos números, houve melhora nos resultados em relação aos anos anteriores, em grande parte devido à implementação do Bolsa Família, criado em 2004. O programa oferece um rendimento mensal às famílias (com renda per capita de até R$ 154 por mês) que mantenham os filhos matriculados na escola. Por esse motivo, a demanda por educação tem crescido.

Entretanto, esse aumento não foi acompanhado de investimentos nas infraestruturas de ensino; das 13 escolas municipais de Alagoinha, dez têm classes multisseriadas (onde alunos de séries diferentes ficam na mesma sala, com uma professora que se divide para lecionar conteúdos diferentes). Essas escolas ficam na zona rural, onde vivem quase 64% da população de Alagoinha. As unidades são precárias e algumas delas não têm telhado ou vaso sanitário.

O município oferece atualmente 150 bicicletas e cinco ônibus escolares, que recolhem os alunos ao longo dos 450 quilômetros quadrados de extensão da cidade. Porém, em algumas estradas de terra, segundo o prefeito, os ônibus não passam e a solução é recorrer a caminhonetes ou ir a pé.



Fontes: El País-Uma fraude mantém Alagoinha do Piauí como a cidade mais analfabeta do país

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